24 de novembro de 2024

Conselho de Segurança ouve moradores em situação de rua e de residências fixas

Mirian Sílvia de Oliveira tem 42 anos, 30 deles “morando” entre a Morada dos Baís e a Dom Aquino, 30 consumindo drogas. “Começei aos 12 anos com maconha, depois veio o crack”, conta, enquanto arruma a pedra escondida dentro do sutiã. Hoje já não sabe mais quantas consome por dia.
Ela participou pela manhã da ação da Subsecretaria de Direitos Humanos e outros órgãos públicos que fizeram um mutirão ao lado da Morada dos Baís. Ganhou roupas, brinco, um pão com mortadela, arrumou o cabelo, mas não aceitou o convite para se tratar em uma comunidade terapêutica.
-Porquê não vai? Pergunto.
-Porque não permitem que eu leve drogas e eu não posso mais viver sem ela – responde Miriam. Segundo ela, já tentou inúmeras vezes ficar limpa, mas sempre cai e volta para o mesmo lugar.
Para sustentar o vício, ela explica que pede nos semáforos, faz varreduras na frente das casas, se prostitue às vezes, mas sempre tem o suficiente para comprar uma pedra de crack vendida livremente ao longo da Orla Ferroviária ao custo de R$ 2,00 a mais em conta.
Tuberculosa, ela foi internada na Santa Casa recentemente em uma crise. “Fumei lá dentro, tinha escondido uma pedra no sutiã, não posso ficar sem”, explica, enquanto acende uma zuca, ali mesmo ao lado dos servidores da Secretaria de Assistência Social (SAS), Direitos Humanos, Defensoria Pública e outros órgãos que participaram da ação.
Para André Amorim, que tem um estacionamento na alameda, a situação para quem mora e tem comércio no local é caótica. “Tivemos dois homicídios recentemente aqui na região entre usuários. Uma casa foi invadida aqui ao lado do meu estacionamento e virou boca de fumo. Chamamos a Guarda Municipal mas eles vêm e vão embora. Temos de ficar sempre alertas para que nossos clientes são sejam agredidos ou roubados”, explica.
Andréia trabalha na Av. Calógeras e tem de passar pela alameda da Morada dos Baís todos os dias, mas às vezes têm de dar a volta quando o local está tomado pelos dependentes químicos. “É complicado para nós, principalmente as mulheres”.
Wilson Rogério, que tem um restaurante na Cândido Mariano com a Dom Aquino, está a 22 anos no local, mas já está considerando fortemente deixar o bairro. “Minha esposa já foi quase agredida dentro do restaurante e só não foi porque eu cheguei na hora”, lembra. Para ele, fechar as portas é consequência do assédio que os clientes sofrem dos dependentes químicos, pois se não derem dinheiro, são ameaçados e os veículos depredados.
*Maria (que prefere não se identificar), mora na quadra, vê a ação de hoje “para inglês ver”, pois segundo ela, assim que os servidores tiverem voltado para seus gabinetes, ela e quem tem residência fixa no local, vão voltar a conviver com o mau cheiro de fezes e urina nas esquinas, com as ameaças cotidianas e com a insegurança que reina no centro da capital. “Nosso direito de ir e vir não existe aqui. Se saímos, podemos ter nossas casas roubadas ou ser assaltados. No cair da noite, nem pensar em sair de casa”.
Bárbara Mesquita, da Subsecretaria de Assistência Social, organizadora da ação disse que hoje, cinco usuários aceitaram o tratamento em uma Comunidade Terapêutica e já foram encaminhados. Para ela, o “trabalho de formiguinha” traz seus frutos sim. “Cada um que tiramos das ruas, já é uma vitória”, explica.
Para José Luiz Kreutz, presidente do Conselho Comunitário de Segurança da Região Central (CCSRC) falta conexão entre as secretarias. “É um problema tão complexo que enquanto cada um fizer por conta, não vai haver uma solução para esse problema que cresce a cada dia. Precisamos urgente de um recenseamento para saber o perfil dessa população: quem são, de onde vêm, grau de escolaridade, tipo de dependência química, etc. Só depois, é que será possível ajustar as políticas públicas”, disse.
Para Suki Ozaki, também do CCSRC, o que é ofertado pelo poder público aos moradores em situação de rua está longe de cumprir com seu papel: torná-los cidadãos plenos, gozando de direitos e deveres como todo mundo. “Se a drogadição é doença, então precisa de tratamento médico. 15 dias ou 30 em um CAPS AD não é o suficiente para a desintoxicação. O que temos hoje é um serviço público insuficiente e ineficaz”, pontuou.

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