22 de novembro de 2024

Saúde Mental em tempos de Pandemia

O mundo vem passando por pandemias, resultantes quase sempre do desequilíbrio entre o homem e o meio ambiente. O homem invade os limites que não lhe são comuns, e as forças vivas da natureza interagem, e invadem o espaço urbano, comum ao ser humano, trazendo, estas interatividades, micro-organismos que são causadores de doenças.

Foi assim nas pandemias de AIDS (1981 até os dias atuais), por H1N1 (2009-2010), Gripe de Hong Kong (por mutação do vírus da Gripe H3N2, 1968-1969), Gripe Aviária ou Gripe Asiática (por mutação do vírus da Gripe H2N2), e Pandemia da Gripe Espanhola (pertencia ao mesmo subtipo da Gripe A, o H1N1) cujas estimativas de mortes ficam entre 17 e 100 milhões de pessoas.     

Prerrogativas seculares para enfrentamento das pandemias são estabelecidas pela ciência há mais de um século, e se constituem em evitar o contato entre as  pessoas, manter os ambientes e objetos com muita higiene e sempre que possível sem compartilhamento, evitar aglomerações e manter a distância de pelo menos dois metros,  usar máscaras, usar álcool 70º para aplicar nas mãos, evitar levar as mãos às áreas de mucosa de fácil penetração de micro-organismos no corpo (boca, nariz, olhos, ferimentos abertos).

Mas os seres humanos são seres sociáveis, que normalmente vivem em comunidade. A imposição necessária do distanciamento físico para evitar a contaminação pela COVID-19, para muitas pessoas tem se traduzido em um motivo de sofrimento psíquico. A pandemia pelo novo coronavírus veio apontar a necessidade de afastamento das crianças e professores da escola, de fechamento de serviços não essenciais, de adaptação e trabalho remoto para muitos profissionais. Veio impor a necessidade de adaptação de novas formas de relações sociais, que agora ocorrem de forma virtual, e em pouquíssimo tempo vem capacitando as pessoas com condições de assumirem os gastos com esta inclusão digital, e, por outro, vem apontando mais um cenário de exclusão digital, em meio a uma série de outras exclusões que já vêm se materializando no sistema capitalista: a exclusão do direito ao trabalho, à alimentação, à saúde, à educação, ao conforto e à segurança.

Podemos dizer que as reformas neoliberais impostas pelo capitalismo para manter a acumulação e o aumento do lucro dos mais ricos, associado às instabilidades políticas de diversos países, estão associadas à pandemia pelo novo coronavírus nos nossos tempos, e cria um ambiente caótico, altamente inseguro, depressivo, de sofrimento e de morte, principalmente dos mais pobres, dos mais velhos e dos mais doentes. E estamos vendo que nestes tempos, o alongamento da crise associado à falta de consciência e de organização política das sociedades desorganizadas, vem gerando um clima de acomodação com o caos, e as pessoas e famílias fazem suas lamúrias pelas perdas apenas no aspecto individual e familiar, não rompendo suas próprias bolhas de isolamento social, que diferencio do necessário distanciamento físico pela pandemia.  Temos de manter distanciamento físico, mas não podemos permanecer em isolamento social, porque podemos interagir virtualmente através das mídias digitais.

Muitas pessoas, famílias e comunidades sofrem dentro dos seus próprios espectros e territórios, e não conseguem enxergar que há uma reprodução em série, idênticas, dos seus dramas próprios, não conseguem enxergar que há um mal-estar geral da civilização, e que estes contextos exigem mudanças de comportamento da humanidade, como um todo, na sua relação com o planeta terra.  

É preciso que nestes tempos de distanciamento físico, as pessoas saibam redimensionar seus tempos, para entenderem melhor a si próprias, para se revigorarem física e psiquicamente e aproveitem este momento, que talvez nunca tivesse tido oportunidade de ter vivido antes. É preciso que cada um pense melhor a sua própria relação com seu microcosmo, com o mundo em que vive, e com as outras pessoas, para que saiamos deste período depressivo e de morte, com um pensamento coletivista e de interação social, como saldo positivo para construir uma nova realidade necessária. Porque se isso não ocorrer, estaremos no caminho do aniquilamento.

Vamos cuidar das nossas mentes e dos nossos corpos, interagir com nós próprios, meditemos, interajamos e ouçamos com calma os nossos familiares, pratiquemos atividades físicas possíveis e seguras, para revigorar nossos corpos. Vamos comer só o necessário e alimentos saudáveis, sem excessos, sem gula, e tornemos estes tempos difíceis em um grande somatório de forças positivas, que possam se somar coletivamente.   Respeitemos e preservemos a mãe natureza e que todos se entendam como parte deste conjunto de vida. Vamos sair da pandemia com um legado positivo pela retomada de um mundo melhor para todos.  Podemos sair mais fácil de um momento de grande sofrimento psíquico, para um novo e promissor período, se nos vermos mais como irmãos iguais, em uma sociedade mais organizada em nossas lutas por uma Vida de Qualidade.

Vamos Juntos.          

Ronaldo de Souza Costa

Médico Clínico e Médico do Trabalho

Campo Grande-MS

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