AUXÍLIO QUE TEM PERNA CURTA
Amanda Gorziza e Renata Buono – Revista PIAUÍ
Criado em abril de 2019, o auxílio emergencial, inicialmente no valor de R$ 600, ajudou a população desempregada e vulnerável durante a pandemia da Covid-19. O repasse da quantia para os mais pobres fez com que a diferença de renda entre o 1% melhor remunerado e os 50% que ganham menos caísse de 40 para 35 vezes entre 2019 e 2020. O que de início é uma boa notícia, a redução da concentração de renda, na verdade esconde uma ilusão de melhora – e uma ilusão que passa rápido, já que o auxílio do governo é finito. De acordo com Gregório Grisa, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e doutor em educação, do ponto de vista político, não se pode dizer que o auxílio sozinho explica a diminuição da concentração de renda no Brasil, mas ele foi importante para dar algum grau de equilíbrio na distribuição de rendimentos. A onda de desemprego gerada pela pandemia fez diminuir a participação da renda do trabalho na composição do rendimento domiciliar per capita. Já os outros rendimentos (entre eles o auxílio) dobraram no mesmo ano. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2020. O =igualdades dessa semana faz um raio X da renda do brasileiro na pandemia.
Em 2020, durante a pandemia, a diferença do rendimento médio domiciliar per capita do 1% melhor remunerado e dos 50% com menor rendimento caiu na comparação com 2019. Além disso, o índice de Gini, que varia de zero a um e mostra a concentração de renda da população, passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020. Quanto mais perto de um o índice, mais concentrada é a renda. Os dados mostram que a desigualdade de renda no Brasil diminuiu, mas isso é consequência, principalmente, pelo crescimento de repasses governamentais no período, como o auxílio emergencial.
Em 2019, 92,8 milhões de pessoas tinham rendimento oriundo do trabalho. Esse número caiu para 84,7 milhões durante a pandemia. Ou seja, pelo menos 8,1 milhões de habitantes perderam seus empregos em um ano.
A participação da renda do trabalho na composição do rendimento domiciliar per capita diminuiu de 74,4% para 72,8% em 2020. Já a fatia dos chamados outros rendimentos* (programas sociais, aplicações financeiras e seguro-desemprego, por exemplo) cresceu de 3,4% para 7,2%, impulsionado pelo auxílio emergencial.
Um quarto dos domicílios brasileiros recebeu outros programas sociais (auxílio emergencial) durante a pandemia. Já o Bolsa Família diminuiu pela metade em relação a 2019, de 14,3% para 7,2%, uma vez que a maior parte dos beneficiários migraram para o auxílio emergencial.
Durante o período do auxílio emergencial, a aprovação do presidente Jair Bolsonaro subiu. Em setembro de 2021, a avaliação de ótimo ou bom aumentou para 40%. Em dezembro de 2019, a taxa era de 29% e tinha tendência de queda. Entre os eleitores com renda familiar de até um salário mínimo, a aprovação, que era de 19% em dezembro de 2019, subiu para 35% no ano seguinte.
Pela primeira vez desde o início da série histórica, o grupo dos outros rendimentos (programas sociais, aplicações financeiras e seguro-desemprego, por exemplo), com 30,2 milhões de pessoas, superou o grupo dos que recebiam aposentadoria e pensão, totalizando 26,2 milhões.
As desigualdades de renda estão presentes nas diferentes regiões do Brasil. Entre os 50% da população com menores rendimentos, um sulista ganha o dobro que um nordestino ou um nortista. Na Região Sul, a média foi de R$ 661 mensais em 2020. Já no Norte, R$ 325, e no Nordeste, R$ 301. No entanto, apenas essas últimas duas regiões tiveram aumento nesse indicador, o que pode ter relação com o auxílio emergencial.
*Nota metodológica: valores médios de 2020; o auxílio emergencial entrou no grupo “outros rendimentos”, que engloba rendimentos de programas sociais, aplicações financeiras e seguro-desemprego
Amanda Gorziza (siga @amandalcgorziza no Twitter)
Estagiária de jornalismo na piauí
Renata Buono (siga @revistapiaui no Twitter)
Renata Buono é designer e diretora do estúdio BuonoDisegno