Enquanto o número de registros de contágios pelo novo coronavírus explode no país, trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Furnas correm o risco de ficar sem plano de saúde. Para lutar contra a perda desse direito, desde o dia 17 de janeiro, os eletricitários da empresa estão em greve.
A categoria denuncia que a Eletrobras reajustou de 10% para 40% o valor cobrado pelo plano de saúde. A mobilização, que começou em Minas Gerais, já se expande para outras subsidiárias da Eletrobrás, como: Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), Companhia de Geração e Transmissão de Energia Elétrica do Sul do Brasil (CGT Eletrosul), Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte).
Para a categoria, a medida já é um reflexo do desmonte praticado pela gestão da empresa para entregar a estatal à iniciativa privada.
Para falar sobre a greve e a atual situação dos trabalhadores diante da ameaça de privatização da Eletrobrás, o Brasil de Fato conversou com o diretor da Associação dos Empregados de Furnas (ASEF) e membro do Coletivo Nacional dos Eletricitários, Victor Costa.
Victor Costa – A greve de Furnas começou em 17 de janeiro, depois que foi anunciada uma mudança de custeio no plano de saúde. Para se ter uma ideia, com esse reajuste um em cada três empregados não terão condições de arcar com o plano de saúde e vão ter que deixar o benefício. Saber que essa atitude da empresa ocorre justamente em período de pandemia torna a tentativa de mudança ainda mais cruel.
Essa mudança veio a partir de uma negociação de acordo coletivo feita no ano passado. Só que num determinado momento, quando a negociação foi se afunilando, houve um processo muito forte de coação e assédio. Nove ações judiciais de primeira e segunda instância comprovaram isso e configurou um vício na negociação. E essa discussão está agora no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
“Temos enfrentado uma série de processos de planos de demissão”
Há um dissídio coletivo em curso, só que a empresa preferiu não esperar esse dissídio coletivo se resolver e decidiu implantar essa mudança de custeio. Nós tentamos uma negociação com a empresa, mas ela foi inflexível. Então deflagramos a greve em Furnas por tempo indeterminado e depois o movimento foi se espalhando por todo país, alguns lugares com pautas diferentes.
No ano passado, a Medida Provisória 1031/21, de autoria de Jair Bolsonaro e que dispõe da desestatização da Eletrobrás, foi aprovada no Congresso. Vocês avaliam que este reajuste no plano de saúde é um reflexo dessa preparação para entrega da estatal?
Historicamente todo processo de privatização é precedido de um processo de precarização das condições de trabalho. O objetivo é enxugar a empresa, reduzir o máximo possível os custos e os processos para entregar com o maior caixa possível para os novos donos. E para tornar isso possível é preciso uma precarização generalizada das condições de trabalho. Por exemplo, nós temos enfrentado uma série de processos de planos de demissão, alguns até propostos em acordo coletivo e a precarização agora no plano de saúde.
Por outro lado, condições precárias de trabalho também, de certa forma, desmoralizam a categoria, que é um dos principais pontos de resistência contra processos de privatização. Então, a empresa está atacando nesses dois setores: desmoralizando quem deveria estar motivado para fazer a resistência e tentando uma reestruturação que possa tornar a empresa mais atrativa para os próximos donos. Mas mesmo assim a resistência está sendo feita em diversos setores.
“Nós definitivamente não escolhemos o lado fácil da história, mas é o lado certo!”
Nós temos um arsenal jurídico que está tratando de todas as suspeitas de ilegalidades no processo de privatização da Eletrobrás. A privatização da Eletrobrás passa por dois grandes processos dentro do Tribunal de Contas da União. O primeiro é a renovação da concessão de 22 hidrelétricas e o segundo a modelagem da privatização em si. O primeiro é uma das condicionantes para eles tocarem o processo de privatização, mas sequer foi apreciado ainda. Os dados são muito inconsistentes, e por isso está tendo muito atraso no processo.
A mobilização, que começou em Minas Gerais, já se expande para outras subsidiárias da Eletrobras – Foto: Asef Furnas
Brasil de Fato