Audiência publica proposta por Luiza debateu defesa de identidade racial
Em uma iniciativa da Comissão Permanente de Políticas e Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos, a Câmara Municipal de Campo Grande realizou no último dia 21 uma audiência pública para discutir o tema “A proteção e a preservação do patrimônio cultural do povo negro em Campo Grande”. Com presença de representantes de diversos setores da luta pela igualdade, o debate foi conduzido pela presidente da Comissão, a vereadora Luiza Ribeiro (PT).
Também fazem parte deste colegiado os vereadores Júnior Coringa (vice), Valdir Gomes, Clodoilson Pires e Claudinho Serra. Segundo Luiza, a audiência é uma das demandas do povo negro da Capital. “Nós queremos preservar a cultura e o patrimônio da negritude. Os focos principais são os de guardar e cuidar das identidades e registros que, além da preservação da memória, ajudem a sociedade a combater o racismo e lutar pela igualdade”, salientou a vereadora.
“Há, por toda a cidade, expressões do movimento negro que precisam ser valorizadas”, acrescentou Luiza. A audiência foi no Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, proclamado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em memória das 69 pessoas mortas no chamado Massacre de Shaperville, em Joanesburgo, quando participavam de um protesto contra a Lei do Passe, em 21 de março de 1960. A Lei obrigava os negros a portarem um documento que continha, entre outras informações, os locais onde eles poderiam circular.
FESTA E LUTA – “É preciso fortalecer a identidade, memórias e ancestralidade para esse povo que contribuiu para a formação da sociedade e da nossa cidade em si. É motivo de festa, mas também de luta”, afirmou o superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), João Henrique Santos. A subsecretária de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Vania Lucia Baptista Duarte, destacou a importância de se discutir as pautas ligadas à população negra. “São diversas pautas ligadas à população negra que precisam vir no sentimento do protagonismo”, pontuou.
Ao destacar registros memoriais dos negros na cidade, Vânia Duarte exemplificou com a comunidade quilombola da Tia Eva. “É centenária e tem uma história. Já é um patrimônio cultural, mas precisamos trazer isso para a legislação”, reforçou. O guardião da Praça Preto Velho e sacerdote do Instituto Cultural da Umbanda Sagrada, José Luiz, denunciou que espaços culturais do povo negro têm sofrido com o descaso. “A praça completa 29 anos e sofremos todos os tipos de depredação de sua imagem”, enfatizou.
O presidente da Associação Tia Eva, Ronaldo Jeferson da Silva, fez contundente defesa pela maior valorização da comunidade. “A Tia Eva é cofundadora de Campo Grande. Hoje, como estamos no processo de urbanização, a comunidade ficou no centro da cidade, mas esquecida. Não temos esgoto, ainda usamos as fossas, por exemplo”, protestou. Defensora da culinária do povo negro, a mãe de santo e baiana de acarajé Solange Aparecida Xavier quer a preservação da iguaria. “Aqui não existe acarajé. Fazemos um chamamento para criar um grupo e trabalharmos tanto na comercialização, como também na preservação. O acarajé é uma iguaria sagrada para nós”, concluiu.
Convocada por Luiza Ribeiro, audiência publica debateu preservação da memória do povo negro (Foto Divulgação)