Livro que celebra legado de Chico Mendes em seus 80 anos é entregue ao Papa Francisco
Obra que relata importância da mensagem de líder seringueiro foi escrita pelo companheiro de Chico, Gomercindo Rodrigues, e foi traduzido para italiano
A memória é um escudo para proteger mensagens que precisam atravessar o tempo. Sendo um dos pilares do Comitê Chico Mendes, a preservação e o compartilhamento da memória de Chico permanecem como parte da missão de seus companheiros. Neste ano, em que se celebram os 80 anos do legado do líder seringueiro, diversas programações e homenagens são realizadas para manter viva a luta que Chico tanto representou.
Gomercindo Rodrigues, de 65 anos, companheiro de luta de Chico Mendes, leva o legado de proteção da floresta, defendido nos anos 80, para além daquela década e das fronteiras do Acre.
O engenheiro agrônomo e advogado escreveu o livro “Caminhando na Floresta”, que celebra as histórias de defensores da Amazônia, especialmente Chico Mendes. Desde o dia 17 de novembro, Rodrigues está na Itália divulgando a versão traduzida de sua obra, intitulada “Camminando nella Foresta”.
Trajetória na Itália
“Em todos os eventos, estamos ressaltando que esta é uma forma de homenagear Chico Mendes pelos 80 anos de seu nascimento. Também mencionamos que o Comitê Chico Mendes está organizando a Semana Chico Mendes deste ano, potencializando essa temática aqui na Itália. Temos participado de eventos todos os dias desde o dia 18. Já passei por várias cidades, como Modena, Bolonha, Emilia-Romagna (em algumas delas até duas vezes), além de Roma”, detalha o escritor.
No momento da entrevista, “Guma” – apelido pelo qual é conhecido – deslocava-se de Florença para Pádua, após participar de uma reunião com a Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Florença. A programação continua em Mestre e se encerra em Palermo.
Encontro com o Papa
No dia 20 de novembro, a equipe que acompanha Gomercindo conseguiu ingressos para uma audiência pública com o Papa Francisco, ocasião em que o pontífice recebe peregrinos e realiza breves contatos com os presentes. Nesse momento especial, Guma entregou ao líder da Igreja Católica um exemplar de seu livro, que narra a história de Chico Mendes.
“Quando ele chegou até nós, conseguimos entregar em suas mãos um exemplar do meu livro, com uma dedicatória. O Papa manifestou muita felicidade, reconheceu o nome de Chico Mendes imediatamente e se mostrou bastante alegre. O contato foi muito rápido, durando cerca de um minuto, mas foi um momento extremamente importante e significativo”, relata o entrevistado.
Como detalhado na entrevista, a jornada do advogado pelo país reforça as comemorações pelos 80 anos do nascimento de Chico Mendes e antecipa as discussões para a Semana Chico Mendes 2024.
“Acredito que, se o Papa ler o livro, isso pode contribuir para a divulgação dos 80 anos do nascimento de Chico Mendes, o que seria muito relevante”, conclui o companheiro de luta e militante pela proteção das comunidades presentes nas florestas do Acre e do mundo, Gomercindo Rodrigues.
Sobre a Semana Chico Mendes 2024
O Comitê Chico Mendes convida a sociedade a participar da Semana Chico Mendes 2024, que celebra o 80º aniversário do seringueiro, sindicalista e socioambientalista Chico Mendes, figura que transformou a luta pela Amazônia em um símbolo de resistência e justiça social para o mundo. Com parceiros que atravessam o território brasileiro, o encontro se prepara para receber e atingir centenas de pessoas no coração da Amazônia.
Com o tema “Chico 80 Anos: A Luta Continua”, a programação, que ocorrerá entre 15 e 22 de dezembro em Xapuri e Rio Branco, convida os participantes a reviver o espírito dos “empates” de Chico, momentos em que seringueiros se uniram para impedir a destruição da floresta, e que seguem como exemplo inspirador de resistência pacífica.
Serão promovidas rodas de conversa, atos culturais, exposições fotográficas e exibições de filmes sobre a Amazônia. Como Chico ensinou, “nossa vitória depende da nossa organização e disciplina”, e em 2024, ao celebrar sua memória, reafirmamos a força coletiva no maior encontro em prol da justiça social e ambiental do Acre.
Sobre o Comitê Chico Mendes
Criado em 1988 por companheiros e companheiras de luta e militância, familiares e organizações da sociedade civil na noite do assassinato do líder seringueiro e sindicalista, o Comitê Chico Mendes surge como guardião dos ideais e do legado deixado por Chico.
Realizando a Semana Chico Mendes e o Festival Jovens do Futuro o Comitê atuou como um movimento social até 2021 quando diante do desmonte da Política Nacional de Meio Ambiente que atingiu de forma violenta os territórios e seus povos, sobretudo as Reservas Extrativistas, legado direto da luta de Chico, sentiu que era chegado o momento de dar um passo importante e necessário no sentido de se estruturar para uma atuação voltada à promoção do bem estar social, ambiental, cultural e econômico das comunidades tradicionais locais.
Então, em maio de 2021, depois de um longo processo de escutas e diálogos entre seus membros ativos e parceiros, decidiu-se pela institucionalização do Comitê Chico Mendes. Essa decisão foi um divisor de águas, hoje, chegamos às bases com projetos estruturados, mas continuamos com a alma de movimento de resistência que transborda nas Semanas Chico Mendes realizadas desde 1989, até o Festival Jovens do Futuro que realizamos a partir de 2020.
por Victor Manoel